Poucos brasileiros usam o FGTS na compra da casa própia. Foto: Freepik. |
Somente 14,5% utilizam os recursos do Fundo para adquirir imóvel, aponta plataforma de crédito imobiliário.
Uma parte menor dos trabalhadores tem
aproveitado o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para comprar imóvel. Um estudo feito pela plataforma de
crédito imobiliário Credihome by Loft aponta que somente 14,5% utilizam os
recursos com a finalidade de realizar o sonho da casa própria. A aquisição do
bem é uma das possibilidades para ter acesso ao valor do fundo, que pode ser
utilizado apenas em determinadas circunstâncias.
Para contratar um financiamento imobiliário de apartamento à venda em São Paulo por meio do FGTS, por exemplo, é preciso ter mais de 18 anos e não possuir restrições de crédito junto a órgãos de proteção, como Serasa e SPC. Deve-se ainda comprovar renda suficiente para arcar com os custos das parcelas, não ser dono de imóvel na mesma região da casa a ser financiada e não ter outro financiamento pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH) em andamento.
Para muitas pessoas, o dinheiro do FGTS é suficiente para dar entrada no
financiamento do imóvel e parcelar o restante da dívida no longo prazo. A
pesquisa feita pela Credihome by Loft reúne dados do primeiro semestre de 2022
e considera os clientes da plataforma. A maioria dos que confirmam negócio
pertence às classes A e B.
O presidente da plataforma, Bruno Gama, observa
que a não utilização do FGTS mostra que os clientes do levantamento são
indivíduos com poder aquisitivo maior e que contam com um planejamento
financeiro estruturado. Dessa forma, são pessoas que desejam manter a reserva
para resolver outras pendências futuramente ou, mesmo, usar o recurso ao longo
da aposentadoria.
Vale lembrar que, para um público de classe A
ou B, algumas das regras do uso do FGTS podem não ser atendidas. Isso porque
quem já possui outro imóvel na cidade onde mora, por exemplo, não pode usar os
recursos do fundo para adquirir uma nova propriedade. Além disso, não é
possível recorrer ao fundo se o valor do bem for superior a R$ 1,5
milhão.
Aumento no volume total de negociações de crédito imobiliário
Apesar do aumento dos preços dos imóveis, queda
de renda da população e encarecimento do financiamento imobiliário, no primeiro
semestre de 2022, a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário
e Poupança (Abecip) registrou volume acima da média de crédito garantido para
compra de imóveis. Parte desse movimento se deve a programas de habitação
popular, enquanto a outra ficou com a alta renda, que não perdeu poder
aquisitivo no período.
Conforme avalia o chefe de Produtos Financeiros
da Credihome by Loft, Rafael Costa, em entrevista à imprensa, o comportamento
de não usar o FGTS na compra de um imóvel tem aumentado ao longo dos anos e
deve se concretizar com o passar do tempo, com exceção dos programas
habitacionais populares federais ou estaduais. Ele atribui tal dinâmica ao fato
de cada vez mais pessoas enxergarem o recurso como uma reserva para o futuro.
No primeiro semestre de 2022, especificamente
na Credihome, houve um crescimento de 48,4% no volume total de negociações de
crédito imobiliário, em comparação ao mesmo período de 2021. As condições do
mercado favorecem a procura, já que, embora a taxa básica de juros (Selic)
tenha subido consideravelmente em 18 meses, as taxas de crédito imobiliário
aumentaram mais lentamente.
Apesar de as altas na Selic assustarem as
pessoas, a maioria passou a compreender que a base conceitual e econômica do
crédito imobiliário vem da poupança, que conta com uma taxa de remuneração
limite, como pontua Rafael Costa. Dessa forma, quando a Selic estava em 2%, a
poupança rendia 1,4%.
Ao passo que a Selic aumentou e foi para mais
de 8,5%, a caderneta, em conformidade com a regulamentação, atingiu o teto de
6,17% + TR. Assim, para o executivo, por mais que as taxas do crédito
imobiliário subam um pouco, ainda há condições vantajosas para o cliente
final.
Como usar o FGTS
O FGTS pode ser usado para comprar a casa própria, amortizar a dívida e ajudar
a pagar as parcelas. Esse recurso é disponível a todos os trabalhadores
contratados pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que tenham mais de
três anos de carteira assinada no total. O uso pode ser feito de diversas
formas e é preciso estar atento às regras que envolvem a transação.
Além da casa ou apartamento pronto para morar, o consumidor pode utilizar o
valor obtido com o FGTS para adquirir terrenos ou começar uma construção. Para
isso, o financiamento facilita a compra da casa própria, porque usa como
parâmetro o rendimento da poupança, que não reflete a variação total da Selic.
Segundo a Caixa Econômica Federal, o FGTS pode ser usado por meio de alguns
passos. O primeiro deles é conferir o saldo da conta e ver quanto está
disponível para operações de compra, amortização, liquidação e pagamento das
parcelas de contrato. Além disso, o comprador precisa verificar se ele e o
imóvel escolhido atendem aos requisitos.
O imóvel, por exemplo, deve usar o SFH como modalidade de financiamento, não pode ter sido negociado com uso do fundo nos últimos três anos e não deve existir outro financiamento no nome do comprador. Antes de encontrar o imóvel desejado, é preciso solicitar a aprovação do financiamento imobiliário no sistema SFH.
Vale lembrar ainda que cada banco possui uma lista de documentos própria para financiamento imobiliário. De modo geral, costuma-se exigir documento oficial de identificação, carteira de trabalho, comprovante de renda, extrato de conta vinculada ao FGTS e, para trabalhadores avulsos, declaração do órgão gestor do sindicato ou da mão de obra.
É preciso também apresentar declaração de
Imposto de Renda Pessoa Física (DIRPF). Trabalhadores casados ou em união
estável devem ainda entregar a DIRPF do companheiro.
A partir daí, o banco escolhido analisa a solicitação e, caso aprovada, o saldo do FGTS pode ser investido na casa própria.
Texto: Luiz Affonso Mehl
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