Projeto de Recuperação e Preservação da Bacia do Rio São Bartolomeu

Juliano Minervino, coordenador:
“intenção é comercializar 25% das mudas”
Por: Diego Amorim - Jornal Correio Braziliense
Um projeto para salvar a Bacia do Rio São Bartolomeu criará oportunidades de emprego e renda para comunidades rurais do Distrito Federal e Entorno, além de permitir a exploração turística da região. Após um minucioso diagnóstico, constatar o nível avançado de degradação da área, o esforço agora é para envolver a população ribeirinha no trabalho de recuperação da bacia. O conceito de economia solidária ajudará no renascimento de um manancial considerado o mais importante para o futuro abastecimento de água da capital do país.

No DF, a bacia em questão abrange as regiões administrativas de Planaltina, Sobradinho, Paranoá e São Sebastião. Do lado de Goiás, Cristalina, Cidade Ocidental e Luziânia (veja o mapa no final desta postagem). Na última década, os desmatamentos para ocupação agropecuária e a expansão urbana desordenada maltrataram a bacia. Como resultado do esgoto e de agrotóxicos despejados à rodo nos afluentes, as águas do São Bartolomeu passaram a apresentar alto índice de coliformes fecais. O leito do rio se alarga, a profundidade dele diminui e a mata ciliar perde chances de se recompor.
Na próxima segunda-feira (29/03), a Fundação Banco do Brasil (FBB), com o apoio da Fundação Pró-Natureza (Funatura), lança oficialmente uma nova etapa da revitalização da área. Dez mil mudas serão plantadas nos parques ecológicos Pequizeiros e Vale do Amanhecer, na área rural de Planaltina. A meta é a produção de 1 milhão de mudas nativas do cerrado em viveiros espalhados pela bacia. As primeiras 225 mil plantas serão produzidas até dezembro. Para essa fase do projeto, as duas fundações firmaram convênio no valor de R$ 949,5 mil, sendo que só a FBB investiu R$ 922,2 mil.
Técnicos da Funatura vão adotar uma tecnologia chamada de Viveiros do Cerrado, que consiste na produção de mudas em larga escala e a baixo custo. A intenção é comercializar 25% das mudas produzidas. Os cursos para ensinar a população local a cuidar dos viveiros começaram no início deste mês em 16 comunidades e 10 centros de ensino. “O objetivo dessas ações é sensibilizar os moradores sobre a importância de recuperar a bacia e oferecer a eles conhecimento para que possam cuidar dos viveiros e complementar a renda”, explica o coordenador do projeto, Juliano Silva Minervino.
Benefícios
Ambrosina Bezerra: "Vamos ajudar
a recuperar o rio e ganhar dinheiro"
Calcula-se que cerca de 5 mil pessoas sejam beneficiadas direta ou indiretamente. Ambrosina Dantas Bezerra, 65 anos, está nessa conta. A líder comunitária mora em uma chácara na área rural de Planaltina desde 1985 e está empolgada com as aulas sobre coleta e armazenamento de sementes, produção de mudas e construção de viveiros. “Vamos ajudar a recuperar o rio e ainda ganhar dinheiro, vai ser bom demais”, comenta ela, que preside uma associação de mulheres da região. “O que a gente conseguir vai ser revertido para o bem-estar da nossa comunidade”, planeja.
A maioria dos moradores da Bacia do Rio São Bartolomeu são pequenos agricultores. Muitos não ganham nem um salário mínimo, que hoje vale R$ 510. Os três grandes viveiros em construção e os outros 15 pequenos e médios previstos criam perspectivas para essas comunidades. A Funatura tenta o apoio do Ministério Público (MP) para obrigar quem desmatou a área a reflorestá-la com mudas produzidas por meio do projeto. Além disso, existe um deficit de mudas no DF. A ideia é fazer dos viveiros do São Bartolomeu uma referência no mercado.
O presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Pena, prevê que os produtores rurais das comunidades ribeirinhas passem a praticar o extrativismo e se apropriem da técnica da produção de mudas nos próximos anos. “É um projeto a médio e longo prazo. Além de cumprirem o papel deles na revitalização do rio, terão a possibilidade de ter um emprego e aumentar a renda”, diz Pena. A FBB investe em projetos que envolvem técnicas reaplicáveis, desenvolvidas com o apoio da comunidade e que incentivem a transformação social.
Com o trabalho de recuperação da bacia, espera-se também que o Rio São Bartolomeu seja descoberto como atração turística. “A demanda para o chamado ecoturismo é crescente. O rio tem um potencial enorme e só não é explorado porque não foi preservado nos últimos anos”, acredita Pena. Ele lembra que, em vários lugares do interior do país, os rios são usados, por exemplo, para passeios de bote e para a prática de esportes como canoagem. “O Bartolomeu está aí, muito mais perto que Alto Paraíso e Pirenópolis”, acrescenta.
1 - Raios X
O diagnóstico foi realizado entre julho e dezembro do ano passado, ao custo de R$ 253,8 mil. Além de detectar o assoreamento do rio e a contaminação da água, o estudo traçou um mapa do uso do solo da bacia: áreas de lavoura/pastagem ocupam 43% da área total; os condomínios correspondem a quase 6%; a vegetação do cerrado está presente em 27%.
2 – Alternativa
A economia solidária consiste em uma alternativa de criação de trabalho e renda, com incentivo à inclusão social. Compreende técnicas organizadas sob a forma de autogestão, visando crescimento econômico com proteção de ecossistemas e desenvolvimento sustentável.
Serviço
O lançamento oficial do projeto de revitalização da Bacia do Rio São Bartolomeu será na próxima segunda-feira, às 10h30, no Parque Ecológico do Vale do Amanhecer (DF-130, ao lado da entrada do Vale do Amanhecer). Quem quiser apoiar o projeto de alguma forma pode entrar em contato com a gerência de parcerias, articulações e tecnologia social da Fundação Banco do Brasil, pelo telefone 3310-1900. Mais informações pelo site www.fbb.org.br. Veja no mapa abaixo, a área de influência da Bacia do Rio São Bartolomeu:
Bacia do Rio São Bartolomeu, clique para ampliar

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