O Brasil tem uma diversidade cultural imensa, a música sertaneja reina soberana principalmente no interior de SP, MG, GO e PR, enquanto no RJ é pagode e funk, na Bahia, axé. Nos estados do sul as bandinhas tomam conta. No nordeste é o forró e no norte o Calypso.
Isso em linhas bem gerais. São os famosos estilos populares, aqueles que arrebatam mais audiência. Adicione à esse formato uma boa porcentagem de sucessos (traduzindo: músicas de novela) que são incontornáveis, tendo em vista a influência da TV no rádio. Pronto, é esse o modelo de rádios populares, com pequenas variações aqui e ali. E normalmente essas rádios estão em primeiro lugar nas suas praças.
Furar esse bloqueio é difícil. Tem jeito? Tem. Existem espaços para nichos? Sempre existirá, mas depende de uma série de fatores (muitos) a começar pela própria sociedade (É aberta ou não à novidades?), mercado (anunciarão em rádios com audiência mais restrita, porém mais qualificada?), os profissionais da rádio (Terão capacidade de operacionalizar um projeto ousado?) e até do proprietário da emissora (Tem interesse em investir no rádio seriamente ou trata a emissora como um açougue?).
Cada caso é um caso.
É uma conjunção tão difícil que poucas rádios segmentadas no interior dão certo, principalmente as “jovens" ou "adultas". Não encaro a popularização do FM como algo negativo, era de se esperar e inevitável. O rádio era um universo segregado onde o rico ouvia FM e o pobre AM. Odeio esse papo de “luta de classes”, mas na verdade no início existiu essa separação.
Com o ganho excepcional da classe pobre com o plano real, graças à estabilização econômica, foi natural que os meios de comunicação os prestigiasse. Esse paradigma foi quebrado e hoje vemos como as empresas do setor popular cresceram exponencialmente, Casas Bahia, por exemplo.
A famosa “classe C” é o novo eldorado das empresas no país há pelo menos 10 anos. As rádios AM passam por uma situação difícil simplesmente porque a tecnologia as tornaram obsoletas. O ouvinte exigiu melhor qualidade de som que as AM não puderam oferecer e o trunfo do alcance territorial que elas tinham foi quebrado pelo satélite, mais barato e eficiente.
Essas são as principais causas da sua derrocada. As pessoas menos favorecidas financeiramente começaram a comprar som hi-fi com cd e descobriram como era ruim seus radinhos de pilha. A exigência pela qualidade sonora foi questão de tempo.
Quero voltar com detalhes a esse assunto em outros textos. A rádio Mix de São Paulo conseguiu o feito de assumir a liderança geral na audiência em um certo período. Sem dúvida foi sensacional uma rádio “jovem” chegar ao primeiro lugar mas o erro é considerar o Brasil como São Paulo. Não é.
Dificilmente a experiência da Mix se repete em outros mercados, principalmente do interior. É impossível? Não, mas é raro. Basta sair 100 km da capital e verá que o sertanejo toma conta. Se for no nordeste, acontece o mesmo com o forró, e assim por diante. A verdade é que o próprio povo rejeita a pluralidade.
Quer um exemplo? Experimente abrir uma rádio segmentada de dance no interior, com o megastar dj Tiesto tocando todo o fim de semana. Em 6 meses a rádio fecha as portas. As pessoas querem é cantar a música da novela, rimar “emoção” com “coração” e ouvir a música que tocou no Faustão.
A realidade do brasileiro médio é essa. Um ou outro projeto alternativo no rádio pode dar certo, mas é muito, mas muito difícil emplacar. Basta olhar para o mercado, não o da capital de SP, mas nacionalmente. Não é a toa que rádios jovens do interior abrem a programação também para o sertanejo, não porque querem, mas porque o ouvinte deseja, o o patrocinador também.
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